Porque usar Slackware
Piter PUNK
1. Introdução
Uso a distribuição Slackware, não é segredo para ninguém
e defendo a minha distribuição com unhas e dentes. Várias
vezes me perguntam: "Por que você usa
o Slackware?". Outros já perguntam se o Slackware
é adequado para isto ou aquilo.
Acredito que os usuários de Slackware o utilizem em primeiro
lugar Because it works (porque ele funciona), mas existem
vários outros motivos técnicos que nos fazem preferir uma
distribuição em que um dos principais focos é a simplicidade.
2. Vantagens
2.1. Instalação
Esta acho que é uma das maiores vantagens do Slackware, uma
instalação simples com ótimos menus explicativos. Com os
vários kernels customizados, podemos instalar a distribuição
em uma variedade enorme de computadores compatíveis com
i386.
Os pacotes compilados para i386 também facilitam essa tarefa.
Não são todas as distros que podem ser instaladas em computadores
que vão desde um 386 até um Athlon, com memórias começando
em 8MB e discos IDE e SCSI.
Ao contrário de várias outras distribuições, processos de
autodetecção que podem "travar"
a máquina não são aplicados, assim não se corre o risco
de parar a instalação por culpa de uma placa de vídeo não
suportada, ou de uma placa de som mal humorada. Aliás, a
detecção da placa de rede (que funciona maravilhosamente
bem) também pode ser deixada para depois, facilitando a
vida de quem faz as instalações em uma máquina e depois
vai passar para outra.
A separação dos aplicativos em séries autocontidas também
ajuda muito no processo de instalação, principalmente para
os novatos. No caso dos experts, a instalação pode ser extremamente
detalhista, passando pacote por pacote com sua descrição
para o usuário escolher, possibilitando um ótimo controle
do que está sendo instalado e, sem dificuldades, instalações
inferiores a 40MB (alguém mencionou flash?)
2.2. Sistema de Pacotes
Ao contrário do que alguns dizem, o Slackware possui sim
um sistema de pacotes, com possibilidades de instalação,
remoção e upgrade de pacotes. O conjunto de ferramentas
é tão completo que inclui um utilitário para a criação de
pacotes no padrão (e uma pequena documentação na manpage
sobre como criá-los) e outro para simplesmente extrair o
pacote (e possibilitar a inspeção e correção do seu conteúdo).
Somando-se a estas características, temos a vantagem dos
pacotes do Slackware não estarem amarrados a intermináveis
tabelas de dependências, que causam mais mal do que bem,
como vemos nos vários casos de dependências cíclicas e,
nos casos das ferramentas automáticas, instalação e remoção
de pacotes indesejados. Quem teve problemas ao fazer upgrade
da rpmlib e depois ver que o rpm não funciona mais sabe
do que estou falando, ou quem tenta remover o sendmail e
tem como brinde a remoção do squid...
Muito mais simples e melhor do ponto de vista da administração
do sistema, é o administrador saber exatamente o que está
instalando, inclusive conhecendo as dependências a serem
satisfeitas (e em seguida satisfazê-las). Eu não iria confiar
em um médico que não consegue localizar o rim ou fígado
de um paciente, por que confiar o meu sistema a um administrador
que não sabe o que instala?
Outra vantagem é base de dados dos pacotes, que é toda em
modo texto. O que facilita muito a busca de arquivos e pacotes
instalados e também a confecção de utilitários que usem
essa base para propagação de instalações ou facilitar upgrades,
ou mesmo para localizar em qual pacote se encontra determinado
arquivo. Isso apenas com comandos comuns utilizados na shell,
facilitando a tarefa de recuperar um sistema danificado,
ou saber quais pacotes reparar. Já tentou reparar a base
dos pacotes RPM? Ou saber quais pacotes estão instalados
com o rpm sem funcionar?
2.3. Inicialização estilo BSD
A inicialização do Slackware é uma das mais rápidas e das
mais eficientes. É bem mais simples de se administrar do
que a inicialização SystemV: ao invés de centenas (literalmente)
de links simbólicos para dezenas de arquivos, apenas uma
série de scripts que podem ser editados facilmente.
Os serviços principais se encontram separados em scripts
próprios que podem ser chamados individualmente e, para
determinar qual deve e qual não deve ser iniciado no boot
precisamos apenas recorrer a um chmod.
Muito me impressiona alguém mencionar que controlar mais
de cem links simbólicos (que ainda devem possuir um argumento
referente a ordem em que são iniciados) possa ser mais simples
que editar um script ou alterar se ele deve ou não ser executado.
Com essas características, podemos acrescentar sem maiores
dificuldades novos scripts e já com a vantagem de serem
colocados na ordem correta. E, mesmo sendo infinitamente
superior em facilidade e simplicidade de uso, ele também
suporta os scripts de inicialização no padrão SysV.
2.4. Simplicidade
Por fim, uma das maiores filosofias presentes no Slackware
é a KISS (Keep It Simple Stupid), que quer dizer: "Mantenha
isto simples, estúpido!" E por isso
é uma distribuição simples, na qual rapidamente podemos
localizar e modificar os arquivos de configuração. Enquanto
muitas distribuições mantém dúzias de arquivos sob o /etc/sysconfig
contendo a configuração do seu sistema e do seu hardware,
no Slackware estes dados estão concentrados no /etc/rc.d,
junto com os scripts de inicialização.
Os utilitários de configuração em modo texto facilitam a
configuração remota, via console serial e em máquinas sem
o X instalado; coisa que os utilitários gráficos não ajudam
muito a fazer (quando não tornam impossível), particularmente
eu acho bem estranho quando alguma distribuição que se diz
direcionada para servidores obriga a instalação do X para
que seus utilitários funcionem da maneira correta.
A maior simplicidade também reflete uma maior coerência entre
os diversos pacotes e uma maior estabilidade. Neste caso
basta utilizar um pouco de probabilidade, quanto maior a
complexidade do sistema envolvido, maior a chance de haverem
erros e mais complexo deve ser o esquema de controle de
erros do sistema. Como o esquema de controle de erros deve
ser mais complexo, é mais propenso a erros, e realimentamos
uma roda viva. O Slackware foge deste círculo vicioso através
do método mais simples, em uma aplicação da famosa Navalha
de Occam (no caso de vários modelos equivalentes, deve-se
preferir o mais simples).
3. Onde Usar
3.1. Servidores
O primeiro uso a ser pensado com uma máquina com todas estas
características
- Facilidade de administração;
- Estabilidade e;
- Alto potencial de customização
É em servidores. Os utilitários de configuração todos em
modo texto funcionam como uma mão na roda em instalações
remotas, a simplicidade dos arquivos de inicialização e
configuração tornam a reconfiguração da máquina rápida e
indolor. A aplicação de patches é tranqüila graças ao pkgtool
e ferramentas associadas (o único problema está no download
dos pacotes a serem instalados, mas existem diversas ferramentas
criadas pela comunidade slacker para facilitar ainda mais
esse processo).
Em suma, muitas vantagens para apenas uma desvantagem (no
caso, o download das atualizações). Ora, sabemos que um
servidor não foi feito para ficar sendo reinstalado a cada
cinco minutos (como usuários de outras distribuições tendem
a achar necessário), a não ser que haja alguma vantagem
muito grande em relação ao software já instalado, devemos
fazer atualizações apenas em casos de falha de segurança.
Ficar instalando constantemente uma versão sobre a outra,
apenas contribui para a instabilidade do sistema.
3.2. Ressuscitar máquinas com poucos recursos
Pacotes compilados para i386, facilidade de administração
sem o X, disponibilidade do XFree86 3.3.6 (que é mais leve)
e alta capacidade de customização tornam o Slackware a distribuição
ideal para as máquinas com poucos recursos de memória, processamento
e disco.
Obviamente não podemos esperar de um 486 a mesma performance
que vemos em um novíssimo Pentium IV, mas podemos esperar
que ele funcione seja um servidor de impressão, mail e gateway
com alta eficiência e confiabilidade.
Laboratórios obsoletos, com máquinas antigas e HDs minúsculos,
podem se aproveitar muito bem do Slackware e se tornarem
terminais gráficos de qualidade. Algumas distribuições acham
que só computadores i586 (Pentium) ou superiores possam
ter este uso, o Slackware não.
3.3. Desktop
Vários gerenciadores de janelas diferentes, dois ambientes
de trabalho completos e amplo suporte a hardware. Precisa
de mais? Navegadores, Editores de Texto, Planilhas, Softwares
de mensagens instantâneas, clientes de ftp, editores gráficos,
etc...
As outras distros também possuem estes mesmos programas,
e se dizem preparadas para o desktop, o Slackware também
está! Uso Linux desde 96 (comecei com Slackware 96) como
desktop e tenho conseguido escrever meus artigos e trabalhos
para a faculdade, escutar música, ler e-mails, navegar,
etc...
3.4. Aprendizagem
Sendo simples de usar e simples de entender, o Slackware
é perfeito para propósitos didáticos. Você pode saber exatamente
o quê está instalado, onde se encontram os arquivos de configuração,
etc... As dúzias de arquivos bizarros espalhados em /etc/sysconfig,
preparados para facilitar a vida dos utilitários de configuração,
atrapalham a compreensão dos detalhes e o entendimento do
sistema como um todo.
É através da compreensão que criamos verdadeiros administradores
de sistemas e não meros apertadores de botão. Atenção, não
se trata de desqualificar os utilitários de configuração
(o Slackware tem vários e seus usuários criam outros ainda
para facilitar e simplificar a vida do administrador), mas
de usar estes utilitários sabendo o que está acontecendo.
4. Conclusão
Com este artigo pudemos ver as várias vantagens do Slackware
em termos de administração e manutenção do sistema. Enquanto
alguns acham que facilidade é entrar em dezesseis submenus
para mudar o IP do computador ou para carregar o módulo
correto da placa de rede; nós, slackers, acreditamos que
facilidade é resolver o problema com a edição no lugar indicado
do arquivo de configuração correto.
E isto é o Slackware, facilidade e simplicidade. Se é isso
que você quer o Slackware é para você, e você poderá descobrir
qual motivo leva tantos usuários a amarem esta distribuição.
Qualquer dúvida, crítica ou sugestão com relação a este
artigo, mande e-mail para
piterpk@terra.com.br
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